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Andar assim, tão distraído...

Revirando alguns livros em casa, pude pegar novamente o livro “Eu caminhava assim tão distraído” do poeta e dramaturgo, Maurício Arruda Mendonça. Uma obra prima da poesia paranaense, com aqueles textos que te fazem perder o chão de uma jornada. E o título, e consequentemente a capa, com uma folha que lembra estar em decomposição no chão, me fez refletir sobre o Andar distraído.

Esses dias venho percebendo um pouco sobre os problemas das pessoas. Sabe desses que sempre são urgentes, mas que na verdade não merecem nossa atenção tão repentinamente como anunciam e nos vendem. O passado tem um peso muito importante em nossa vida, e entre lembranças e traumas acabam sendo os responsáveis dos nossos maiores martírios. Um problema é constituído muito mais do medo em relação as experiências anteriores, do que necessariamente da realidade que estamos vivenciando, é como se tremêssemos de frio antes mesmo de saber se o banho é tão gelado assim.

Estar distraído não é algo bem visto em nossa sociedade industrial, o distraído pode causar um acidente, não colabora com a boa aula do professor e pode errar o caminho tão bem estabelecido pelos engenheiros do acaso. Mas o choque da vida me forçou a ser mais distraído, para muitos um perdido e gerador de caos, mas para mim nunca foi tão bom andar assim distraído.

Ao tirar o passado, e as amarras da tradição, e deixando nossos corações guiar os sentimentos, conseguimos, sem muita cerimônia ou receio, caminhar rumo ao desconhecido, e talvez, nos resta a coragem de se jogar e viver a emoção que deva ser vivida. Ficar no banco do jogo assistindo tudo é seguramente tentador, mas somente quem viveu a boa partida, sabe que vale a pena a adrenalina toda antes daquele joelho ralado.

Andar distraído me possibilitou a felicidade, que é uma aptidão infantil, genuína e que quase nunca florescerá em planos muito bem traçados por cabeças cartesianas dos adultos. Mas cuidado, ser distraído não é ignorar o vivido. O passado só torna translúcido e perceptível para quem olha com o coração. Saber lidar com a experiência é respeitar seus percursos, mas não construa paredes que te guiarão somente numa direção, como num corredor, utilize o vivido como base solida para pisar, sem medo de escorregar, e assim poder fazer seu caminho e andar assim, tão distraído...




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