O crime do Professor
Chegava o Professor naquele povoado, um lugar tão distante de qualquer outro que se possa imaginar, á frente das montanhas, afastado dos rios e longe dos mares. Todos sabiam que era o novo professor da cidade, já não se sabe qual era o nome dele, a única referência é que usava camisas claras de algodão, calças com vinco e possuía sapatos marrons muito surrados.
Tão logo já se comentava sobre como o Professor conseguira atenção dos jovens, e como os faziam ir á escola de maneira religiosa. Toda a cidade tinha pavores de saber o que ocorria naquele lugar caído e barulhento, o ambiente foi mudando, não havia tantos barulhos assim, o lugar físico mesmo sem mudanças já não era o mesmo, e é claro que cidade tinha começado a se incomodar com aquilo. O Religioso junto aos fiéis chamou a atenção ao possível inimigo, o Homem que se preocupava com as moedas indagou quanto custaria tudo aquilo, o Letrado questionou coerência do fala do professor e o Homem das leis o acusou. Ninguém lembra o porque, alguns insistem em dizer que era por ser professor.
Os jovens que não ligavam pra cidade, não prestavam atenção para os detalhes e deixam os livros se transbordarem de poeira, eles já não eram mais os mesmos: a cidade era questionada, os detalhes preservados e valorizados, e os livros circulavam de mãos em mãos. Apesar da cidade toda dizer que queria uma transformação, perceberam que não estavam preparados, nunca estariam na verdade. Não sabiam perceber os aromas das flores, enxergar as formas das nuvens e muito menos responderem as indagações das almas jovens questionadoras. O Jovem sorridente estava com dificuldades, o Professor percebeu e quis ajudar, conversaram e perceberam seria possível alcançar o vôo que o jovem tanto queria, depois de tanto esforço subiram para a torre do vilarejo, não era tão alta, mas o Jovem sorridente conseguiu voar lindamente, aproveitou a rajada de ventos e seguiu seu curso, acenando uma feliz despedida ao Professor. Mas a cidade não aceitou perder o Jovem sorridente, o Professor agora está em todas cabeças, andava pelas bocas e seus feitos murmuram nos prostíbulos, falam alto pelos botecos e gritam nas igrejas com tantas certezas.
O Professor de sapatos surrados recebeu um papel, era pra comparecer no prédio mais respeitável do povoado, chegou um tanto adiantado como é de praxe dos professores. Já percebeu que os olhos dos profetas embriagados não eram convidativos, sentou timidamente na cadeira dura, e começaram a ler a fantasia dos infelizes. O acusavam, caluniavam, culpavam e desmereciam por todos os atos, tão surpreso e chateado tentou uma defesa: tudo em vão! Notou que o caminho já estava traçado, considerado culpado recebe o veredicto que sua morte é certa, abaixou seus olhos e o Religioso chegou naquele inferno todo para o abençoar.
Na execução ninguém faltou, estavam todos lá para ver a morte do Professor, com risos a desafia-lo, após o hino para consagração, vieram os sons dos sinos e marcaram a sua hora, o carrasco não se mexeu até executar sua breve função. Ele morreu pelas mãos daqueles que cumpriam o dever, sem ao menos questionar, poucos boquiabertos presenciaram, sem nada pronunciar. A cidade seguiu seu rumo como deveria por aqueles homens magnânimos, O Jovem sorridente voador nunca mais voltou, não demorou e nunca mais sentiram falta dele. Contam essa história como se fosse verdade, mas certamente não aconteceu! Mais pode ter certeza que todos os dias ainda matam professores, a diferença que ao vez do triste fim com sangue, ocorre a dolorosa continuidade com lágrimas.
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