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Independência ou Morte! Se Aylan Kurd fosse brasileiro, você seria culpado?


Já é esperado, neste sete de setembro, que aparecerão pessoas com pensamentos românticos sobre a construção de nosso país, ou aqueles que têm todas as críticas sobre o atual governo. Não podemos nos esquecer das imagens de Tiradentes e dos bandeirantes que sempre ganham espaço de uma maneira empoeirada e arcaica para construírem os heróis nacionais. Mas, neste sete de setembro, decidi fazer algo diferente, pois muitas pessoas vieram me perguntar se não iria dizer nada sobre a morte dos refugiados sírios e sobre a crise da imigração e, principalmente, sobre o destaque escabroso que ganhou a foto de Aylan Kurd, menino de 3 anos morto afogado na praia da Turquia.

Quando éramos crianças, desfilávamos na avenida principal, muitas vezes nos vestiam de branco, carregávamos a bandeira do Brasil e, numa clara referência às instituições militares, marchávamos sem ao certo saber o que era aquilo tudo. A questão do nacionalismo e as invenções das tradições já foram muito utilizadas por governos e grupos para incitar a guerra e a violência e, atualmente, enxergamos uma reconfiguração disso através do aspecto religioso, uma repaginação que envolve fanatismo, disputa política e uma extrema violência.

Há algum tempo já venho comentando sobre essa “áurea” negra que está sobre o país, na qual há uma verdadeira demonização de um grupo através de um discurso de ódio que perpassa a questão do debate político. Esses dias, recebi via WhatsApp um vídeo de um grupo de pessoas hostilizando um membro do governo num restaurante. Como animais, as pessoas ali vaiavam, gritavam e se colocavam de maneira violenta, não deixando o homem entrar com sua família e seu pequeno filho para comer no restaurante.

Essa semana, um professor do programa de doutorado chamou a atenção de como atos como esse citado são atitudes que destroem as nossas instituições. De maneira distinta, grupos radicais jihadistas tomaram o governo sírio e perseguem as pessoas cuja origem e pensamento politico são demonizados, fazendo com que uma grande parte dessas pessoas se arrisquem no mar mediterrâneo para sair da tutela extremista islâmica para que consigam alguma oportunidade no velho mundo que, há não tanto tempo assim, explorou demasiadamente a região.

Apesar da nossa independência ter sido feita nos moldes europeus absolutistas, conduzida por uma família real através de uma negociação de dívidas de Portugal, o Brasil se constituiu como uma estado independente, com seus problemas econômicos e algumas raízes culturais que muitas vezes não nos orgulham tanto. O Menino Aylan Kurd já não mais existe, mas se por acaso existisse como tantos outros que fizeram essa travessia ele seria mais um imigrante perdido no mundo, pelo simples fato de não ser do grupo politico/religioso que está no poder. Não seria considerado Sírio... Nem europeu... Nem canadense. Ora, mas tanta carga para um menino?

Muitas pessoas poderiam ter feito algo para que a vida do menino sírio fosse poupada, mas acreditando estar fazendo o correto, acreditando estar praticando o politicamente possível ou o caminho religioso, atuaram de uma maneira intransigente, deixando de lado o bom senso e questões humanitárias. Será que o filho do homem do governo que viu seu pai sendo hostilizando no restaurante não sofreu os mesmos atos de violência moral e psicológica que Aylan? Neste sete de setembro lhes convido para uma reflexão: o quanto “jihadista” estou sendo com determinados grupos? Será que estou cego com um discurso que foi pensado para parecer coerente? Será que em nome da política e dos bons costumes, em defesa do meu patrimônio, deixarei de lado o mínimo de noções humanitárias?

Uma coisa posso lhes afirmar: para esses imigrantes, a expressão “Independência ou Morte” faz muito mais sentido!

Revisão textual de Fernanda Cassim

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